Essa matéria já começa muito bem quando nosso entrevistado partilha de uma visão otimista e sincera sobre o Blues no Brasil “… está em um nível musical que não deixa a desejar a ninguém; cada ano que passa estamos ganhando terreno e cada vez mais respeito. Isso é ótimo; lógico que o Blues sofre um pouco mais por não estar tão enraizado na nossa cultura como a música Poopular Brasileira, por exemplo; mas hoje em dia, eu não consigo pensar em música de uma forma isolada; eu procuro ver todos os pontos, estilos e situações de mercado” comenta Marceleza Bottleneck: guitarrista da Cracker Blues e também especialista em Texas Blues e Slides (cilindro usado no dedo e em conjunto com um instrumento de corda – guitarra/violão de aço).
Marceleza que sempre gostou de riffs de guitarra, rockabilly e surf music, assistia aos filmes do Elvis na TV só pra curtir o som: “antigamente era difícil de arrumar material. Quando algum amigo arrumava algum disco todo mundo compartilhava nas fitinhas BASF para poder tirar em casa, era a nossa pirataria”, e foi assim que Marcelleza conheceu Brian Setzer (Stray Cats), Johnny Winter, Steve Ray Vaughan, ZZ Top, Albert Collins e posteriormente Blind Lemon Jefferson, Lightnin’ Hopkins, T-Bone Walker, Elmore James, Sun House… depois os tempos foram mudando, o CD tomou a frente dos discos de vinil e facilitou o aparecimento de mais materiais e Marceleza Bottleneck começou a ouvir muito mais blues, slide guitar, country e rock sulista.
Sua paixão é tanta pelo Blues, Slide Guitar, que até o Bottleneck, de seu nome, é em homenagem ao Slide que tem uma sonoridade peculiar (lembrando as guitarras havaianas lap steel ). Na realidade, é o movimento de uma lâmina contra as cordas (provavelmente um canivete ou algo assim) e o Bottleneck (gargalo de garrafa) também usado para o mesmo fim. Aparentemente esse estilo de se tocar surgiu em um instrumento africano que tem uma corda só.
E é bem provável, já que os escravos africanos, no sul dos EUA, deram início ao Blues com seus cantos embalados ao “grito dos Slides”. Vários artistas de Blues tinham forte influência no Slide: Blind Willie Johnson , Blind Willie McTell , Mississippi Fred McDowell , Son House , Robert Johnson… a lista é grande e até hoje o estilo continua influenciando gerações: Lynyrd Skynyrd , ZZ Top, Rolling Stones, Allman Brothers, Derek Trucks, Ry Cooder entre outros. Embora o Slide tenha uma característica afro-americana, se encaixando perfeitamente ao Blues, também pode ser usado em diversos estilos.
“Me deixa feliz que o estilo, aqui entre os brazucas, está ganhando força. Antes era complicado achar alguém pra trocar umas figurinhas; hoje o estilo já faz parte do vocabulário de vários músicos” complementa Marceleza. Mesmo com todo otimismo de Marceleza Bottleneck para o mercado do Blues no Brasil, principalmente em São Paulo, ele ainda afirma que existe uma dificuldade grande para o artista – de qualquer estilo – divulgar seu trabalho: “acontece que as coisas hoje em dia são de consumo muito rápido e ainda nós não pegamos a veia dessa evolução toda; logicamente a internet ajuda muito para divulgação de trabalhos de bandas independentes como a nossa.
Os espaços abertos principalmente para artistas com músicas autorais têm um potencial enorme para crescimento. Existe público pra isso; porém vejo que ainda falta um pouco de ousadia por parte de alguns organizadores de eventos e casas de show, acho que isso ainda está mal explorado. Mas, sem dúvida, participar em qualquer cenário artístico aqui em São Paulo é bacana, afinal é a cidade mais populosa do Brasil e de todo o hemisfério sul.”.
E para 2012, Marceleza já se prepara para os bons frutos e grandes parceiros como Lost Dog e Markadiabo e, ao lado da Cracker Blues, onde estão finalizando o 2º álbum com surpresas sonoras e influências brasileiras num estilo maduro e sensível de se fazer o Blues: numa possível mistura tímida dos bambus e violas regionais com o tão sonoro Slide.
Parabéns, Anete e Marceleza Bottleneck pela matéria!
O blues é uma escola espetacular para a guitarra. Depois de vários anos tocando, tanto a guitarra quanto o violão eletro-acústico, acabei por optar pelo segundo como a minha base de apresentações solo, entretanto, quando tenho ao meu lado músicos de suporte, faço intermitência entre ambos instrumentos.
Muito gostoso de ler.
Bj. e Abs.
Tavynho
Desde o inicio da musica ocidental americana até hoje, somos fascinados com o som do SLIDE ou bottleneck usado no Blues, rock e outros ritmos.
A Musica brasileira já incorpora tais artifícios e somos presenteados com timbres e músicos fantásticos, obrigado por divulgar e dar continuidade a tudo isso.
Juntos somos mais fortes
Saude e $uce&&o
Palazini
Oficina da Arte