Entrevista com Luiz Schiavon do RPM

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Ele fez parte de uma das maiores bandas de rock do Brasil que conquistou o público e fez grande sucesso nos anos 80. Compositor e arranjador, Luiz Schiavon deixou a marca registrada de seu enorme talento e versatilidade em grandes canções do RPM como “Olhar 43”, “Radio Pirata” e no instrumental “Naja”.

Nesta entrevista concedida ao The Music Journal Brazil, Schiavon fala sobre o retorno do RPM, seu trabalho com Fausto Silva, suas influências musicais e sobre o novo álbum. E ainda nos revela: o RPM estará no Rock In Rio 2011! Acompanhe:

Marcelo de Assis: Schiavon, o RPM volta á cena musical neste ano?

Luiz Schiavon: É absolutamente certo que sim. Estamos em estúdio desde janeiro, temos 70% do album já pronto e começaremos os ensaios para show em 2 semanas.

Marcelo de Assis: O que os fãs poderão esperar do novo álbum?

Luiz Schiavon: Bom, é uma pergunta difícil. Todo artista faz seu máximo em cada trabalho e estamos fazendo isso. É um álbum bem “RPM”, com teclados, sequencers, riffs de guitarra, letras com conteúdo. Mas também está up-to-date, não é oitentista. Acho que mantivemos o espírito da banda numa visão atual e ao mesmo tempo madura.

Marcelo de Assis: Vocês estarão no Rock In Rio?

Luiz Schiavon: Com certeza !

Marcelo de Assis: A homenagem feita ao RPM no especial da TV Globo “Por Toda Minha Vida” foi o que impulsionou o retorno da banda?

Luiz Schiavon: Não digo que tenha sido o fator principal, mas foi uma espécie de estopim. Já vínhamos conversando sobre um retorno definitivo desde 2008, mas compromissos individuais dificultavam as coisas. O programa nos deu a dimensão do que é realmente o RPM e decidimos voltar pra valer.

Marcelo de Assis: Como foi sua experiência trabalhando no “Domingão do Faustão”?

Luiz Schiavon: Foi uma das melhores coisas da minha carreira. Pra começar o Fausto é um gênio. Recebe muitas críticas que considero injustas. As pessoas não tem a percepção de como é difícil vc sozinho encarar um programa ao vivo de 4 horas. Tem que ter muito jogo de cintura, pensar muito rápido. No gravado é fácil, errou volta. Ao vivo a coisa pega, e ele é mestre nisso, além de ser, fora do palco, uma das pessoas mais bacanas que conheci.

Mas como dizia, foi uma das melhores coisas da minha carreira. Me deu um timming de TV que é difícil ter. Saber qual câmera está em você sem precisar olhar, acertar o “tempo” de uma piada ou de uma resposta. Além disso a banda era composta por alguns dos melhores músicos do Brasil e é uma escola no dia-a-dia.

Me deu também uma experiência em ser um músico eclético. Num dia tocamos mambo, no momento seguinte rock, depois sertanejo, etc. Muito bom mesmo !

Marcelo de Assis: Você é um dos maiores músicos brasileiros. Quais foram suas influências musicais?

Luiz Schiavon: Não me considero um dos maiores músicos brasileiros, embora agradeça o elogio. Acho que minha maior virtude é ter um dom para arranjo e composição. E, apesar da formação em piano erudito, gosto muito de tralha eletronica. Talvez meu maior mérito tenha sido popularizar o uso da eletrônica em shows e gravações. Minhas influências foram, no Brasil, Egberto Gismonte, Cesar Camargo Mariano, Zimbo Trio. De fora, Tony Banks (Genesis), Rick White (Pink Floyd), Brian Eno, Walter-Wendy Carlos, Giorgio Moroder. Claro que as pirotecnias do Keith Emerson e do Rick Wakeman também influenciaram, mas prefiro a nota certa, bem colocada, que um zilhão de fusas “difusas”, se permite o trocadilho. E os grandes nomes do Jazz, especialmente Oscar Peterson, Count Basie, Thelonius Monk.

Marcelo de Assis: Schiavon, como você avalia hoje o interesse do brasileiro pela música instrumental?

Luiz Schiavon:  ZERO, infelizmente. Isso é uma coisa que me deixa chateado. Quando era jovem, com 20 e poucos anos, vc ia ao auditório do Anhembi e via 3 mil pessoas assistindo o Egberto. Por esse tipo de influencia fizemos Naja que chegou ao top 5 das rádios !

Hoje isso acabou e a música instrumental brasileira, que sempre foi uma das melhores do mundo, vem definhando. Nossos grandes músicos tem que ir para o exterior para viver onde, em geral, são reconhecidos e acabam tendo que permanecer por lá. Mas não é só na música. Vivemos um momento de emburrecimento cultural que é reflexo de políticas públicas tacanhas e até mesmo, ouso dizer, mal-intencionadas.

Marcelo de Assis: Um certo dia, o RPM estourou em todas as rádios do Brasil. Depois inúmeras aparições na TV e grande shows… como foi lidar com todo esse sucesso?

Luiz Schiavon: Lidar com o sucesso é difícil, mas lidar com o fracasso é bem pior ! Hehehehe

Marcelo de Assis: Me lembro bem quando ouvi o instrumental “Naja” pela primeira vez e vi pela tv, em um show do RPM, a imediata reação positiva da platéia… hoje não temos mais este tipo de trabalho no rock nacional. Como você classifica essa mudança ao longo dos anos?

Luiz Schiavon: Isso está mais ou menos respondido na pergunta anterior. Além disso, lamentavelmente, o músico médio de rock da atualidade é meio fraquinho. Imagino os coloridinhos de hoje tocando Burn do Deep Purple! Heheheh !  Ia ser hilário !

Marcelo de Assis: Certamente você foi um dos primeiros músicos no Brasil a utilizar o lendário (sintetizador) Fairlight. Você ainda usa ele em seus projetos?

Luiz Schiavon: Acho que fui o único, não lembro de nenhum outro maluco gastar U$ 118.000,00 num instrumento. Hoje ele está aposentado. Mas tenho mantido contato com o Peter Vogel, projetista do Fairlight, que está prestes a lançar o CMI 30A e, logicamente, estou na fila de espera. Como ex-proprietário fui convidado para um test-drive depois do lançamento oficial.

Marcelo de Assis: O que você tem escutado atualmente?

Luiz Schiavon: Cara, eu escuto de tudo, de Lady Gaga a Marvin Gaye, passando por jazz, samba e sertanejo. Como disse esse período no Domingão me auxiliou a ser menos preconceituoso e mais eclético. Música boa é música boa.

Quando falei que gostava da Calypso quase me mataram. Só quando o Herbert Vianna falou que o Chimbinha é um dos maiores guitarristas e o comparou ao Mark Knopfler é que neguinho parou pra ouvir. Eles são geniais no segmento onde trabalham. Preconceito é uma merda, seja de cor, religião ou mesmo musical.

Marcelo de Assis: Schiavon por Schiavon:

Luiz Schiavon: Um cara do bem, que adora a família, os amigos e o RPM.

Marcelo de Assis: Schiavon, muito obrigado pela sua entrevista e pela sua inestimável contribuição ao rock brasileiro!

Luiz Schiavon: Sou eu que agradeço por terem me aguentado nesses 35 anos de carreira ! Valeu !!

Um comentário sobre “Entrevista com Luiz Schiavon do RPM

  1. Dan

    Aplausos!
    Um cara que entende e fala com gosto sobre música e arte em geral! Adorei quando ele cita sobre preconceito! Acho que é por aí…..temos que saber separar por segmentos e ouvir um pouco de tudo! Uma professora minha na Belas Artes já dizia: “Ouça e veja de tudo para formar senso crítico”…
    Parabéns pela entrevista e o entrevistado pelas sábias respostas! =)

  2. Márcia

    Adorei a entrevista!E o Schiavon é super educado e simpático, ótimas respostas!
    Concordo com o Dan daqui dos comentários:“Ouça e veja de tudo para formar senso crítico”
    É esse o caminho…
    Bjos

  3. Luana Morelli

    Schiavon, vc é demais considero um dos melhores compositores,como mesmo disse sempre se preocupa fazer musicas com conteúdo e isso que esta faltando na musica brasileira … com a volta do RPM o Brasil ganhará muito com musica de qualidade nas rádios com letras que realmente tem sentido … esperamos anciosos com essa volta maganifica !! RPM 2011 a volta mais esperadas dos ultimos tempos …

    Beijosss sua fã de cps sp

  4. Samuel Silva (Os Sobreviventes)

    É meus amigos… Luiz Schiavon tem senso crítico e equilíbrio nas palavras. Esse cara é muito talentoso. Parabéns Luiz pela volta e sorte ao RPM!

  5. PELO AMOR DE DEUS voltem logo salvem o rock nacional que está
    morto,ja imaginou porcarias como o restart, vendendo disco no
    brasil,e ainda por cima analfabetos, vão para a televisão
    afirmar que no AMAZONAS não tem CIVILIZAÇÃO.alem de ruim são BURROS, IGNORANTES, MAL INFORMADOS, SEM ESCOLARIDADE,SEM CULTURA,TUDO DE RUIM QUE ALGUEM QUE SE METE A MÚSICO SEM SER
    TEM.

  6. EDGARD HONORIO FRADE

    achei ilario quando ele disse os coloridinhos
    quer dizer o restart
    agora vamos ver se o rpm se firma em definitivo e para com esse casa e separa
    rpm grande banda tenho aquele classico Lp radio pirata ao vivo
    o rpm ja usavam recursos bem avançados para epoca
    de mixagem e gravaçao
    tanto que no disco vem o aviso[ouça no volume maximo]pois eles usarao este tipo de mixagem pra se ouvir alto
    e nao vejo a hora de ouvir o novo trabalho da banda depois de oito anos e dezoito [sem lançar album de estudio]
    os coloridinhos do restart e´foda de aguentar mesmo
    rpm titas barao paralamas skank cidade negra sao bandas sim de verdade
    e nao os coloridinhos chamados restart que tocam aquelas paçoquinhas sem graça ainda mais pra pegar as gatinhas
    salve salve rpm
    nossas raizes do rock brasil

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